quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Parte II - Review Boom Festival






Os dias amanheciam sempre com uma brisa fresca e com as batidas de um full on morning. Lá pelas duas da tarde o tom era o do Progressive. Sons grooveados, dançantes e com samples fortes. Impossível não se mexer,dançar sozinho,dançar muito e do seu jeito,de qualquer jeito.Às 5 horas da tarde, o som do Dance Floor tinha uma pausa de 3 horas para manutenção e descanso. Era essa à hora de se alimentar, ou de conhecer outros muitos lugares, pessoas, escrever, usar a internet que era disponível e free no cyber café, ler as notícias do festival, entrevistas e matérias no jornal oficial do festival, o “Daily Dragon”, usar o seu lap top na área de wirelles, visitar a Boom Radio, que tinha sempre uma programação diária e DJs se apresentando.
Era o momento ideal para visitar o Boom Shop, onde se podia encontrar desde tabacaria, até produtos de outras edições do festival, gel de banho vegetal ou até mesmo tentar sacar dinheiro, visto que esse espaço tinha uma das maiores filas do festival, e era preciso ser guerreiro para enfrentá-la. Podia-se carregar os celulares, com as tomadas que estavam disponíveis, nadar, tomar sol, sentar na sombra, relaxar, se esticar na rede e viver toda essa experiência mágica e única.





Mas havia tantos outros espaços lindos no festival que ser andarilha era a ordem de todos os dias.
O Groovy Beach estava situado bem às margens do lago, com um caracol todo colorido, onde os DJs se apresentavam. Lycras em tons de azul e branco, e alguns tapetes no solo.
Normalmente durante o nascer do dia, podia ouvir um delicioso Deep house, Progressive house. À tarde o lance era a mistura. Hip hop, música brasileira e de outros países, sons mais “houseados”, funk, grooves no geral. Durante a noite e toda a madrugada, sets e lives recheados de Minimal Techno, Minimal house, Electro e Tech-house. Destaques para a brasileira Tati Sanches,com um estilo e técnica admiráveis,Click Box,Marc Antona.



Um som mais ambiente, chill out e experimental se ouvia no Ambient Forest. Ele ficava lá pra cima, onde o vento trazia recordações e boas vibrações. Com uma decoração em verde e preto, trazia no seu centro uma fonte de água. Calçados ficavam sempre ao lado de fora. E a vista era linda, o lago, as árvores.



Durante o dia, o estilo que mais predominava era o ambiente, som viajante, com batidas leves e relaxantes. Era o espaço onde promovia o encontro de muita gente que descansava, e também do pessoal dos malabares diversos, de contato ao diabolô.
Um dos grandes destaques dessa área se deu no primeiro dia, durante a noite, um ventinho frio, mas uma sonzera que esquentava. Trotter e Pedro Gomide, dois projetos brasileiros de worldmusic e IDM fizeram uma noite memorável e mega dançante. Destaque também para a apresentação de Aquiles,Sallun,ambos integrantes do Grupo Pedra Branca,além do português DJ High.



Do outro lado do Ambient Forest, ficava o Sacred Fire. Para se chegar lá, podia ou dar toda a volta, que era uma média de uns 20 minutos, ou se agilizar com a ponte que interligava esses dois “mundos”.
O Sacred Fire era todo roots, com bambus, muita madeira e todo aberto. Tinha em seu centro um grande palco,e ao seu lado,uma linda fogueira que era acesa todas as noites. Ficava dentro da área cigana do festival, onde havia mais lojinhas, alguns restaurantes tailandeses, á área do silêncio, muitas tipis com massagens diversas: shiatsu, ayurvédica, acumputura além de tarô, leitura das mãos e sucos naturais. Era lá também que havia o jardim das fadas, todo em miniatura, colorido, encantado. Uma produção delicada, em miniaturas e que se perdia tempo ao olhar para tanta magia e delicadeza. Também era lá que se podia ver o jardim dos girassóis, grandes e lindos girassóis, e também uma flor de lótus.



Parar e olhar todos esses detalhes, como foi pensado, os cuidados desde a água que regava todas essas plantas, até as pedrinhas que foram colocadas no chão, era como outro mundo mesmo podia-se sentar em meio à natureza, dentro de arcos de flores e plantas, relvas.
Todo esse espaço onde ficava o Sacred Fire, tornava-se mais emocionante ainda,quando com os batuques,com a percussão, ou com vozes melódicas femininas, se uniam à lua cheia, ao céu estrelado, à fumaça da fogueira, ao eclipse no Show do Pedra Branca, e de outros grupos como Bamboo & Farra Fanfarra, Gocoo, entre tantos outros grupos performáticos.



Por falar em performances, elas eram vistas em toda a parte. Pernas de pau,elfas,bambolês,pirofagia. Performances essas por equipes de artistas do festival, mas também por qualquer pessoa que quisesse colocar a sua fantasia, mostrar o seu talento, seja como gueixa, com partes do corpo a mostra, com orelhas de duendes, com sombrinhas e adereços coloridos, unhas pintadas, homens fantasiados de mulher, com mil dreads variados de todas as formas, cores, e texturas.



Pessoas de todas as partes do universo, deste e talvez de outros. Ingleses, japoneses, australianos, italianos, franceses, mexicanos, indianos, tantos e tantos outros, pelo menos umas 80 nacionalidades diferentes, e é claro, brasileiros. Muita gente que se conhecia de outras festas ou amigos mais próximos, o Brasil estava bem representado, e era sempre bom ouvir um bom português em meio a tantos diversos acentos. Mas como era bom, pedir em inglês e agradecer em português, arriscar um espanhol ou um “Arigatô”, “Merci”. A mistura de idiomas era frenética,mas a freqüência e a comunicação de alguma maneira se dava.E era divertido começar altos papos em inglês e acabar com um português meio mineiro,meio paulista.



Amizades de todas as partes do mundo, anotações, networking, trocas de informação. Com certeza, sempre uma das maravilhas de estar em um encontro tão cultural, tão mixado.
Outra grande mistura eram as crianças. E elas eram inúmeras. Desde bebês de colo até as maiores, com fones de ouvido ou fantasias, asas coloridas. De mãos dadas com os pais ou soltas pela pista principal, pelo festival ou em oficinas oferecidas pelo Baby Boom, espaço esse dedicado e seguro para todas as crianças do festival com monitores especializados, uma maneira também de deixar os pais mais tranqüilos e as crianças longe do som alto ou da poeira.

Continua...

Por Nat Naville (nati@emusicbrasil.com)

sábado, 11 de outubro de 2008

Review Boom Festival- parte 1 Festival da riqueza dos detalhes, da mistura em todos os sentidos




O festival bianual de cultura alternativa, o Boom Festival, comemorou o seu décimo aniversário, e entre os dias 11 e 18 de agosto se deu mais uma celebração no lago de Idanha-a-Nova, pequeno vilarejo ao norte de Lisboa.
Muitos anos de expectativa, muitos sonhos em relação a esse grande encontro da diversidade em todos os sentidos, enfim, os sonhos se tornam realidade e foi assim que se iniciou essa aventura para milhares de pessoas ao redor do globo.

Ao começar pelo dia da viagem. Segunda-feira de manhã em Lisboa,chuva fininha e uma grande concentração de freaks de todo o planeta.Concentração no aeroporto da Portela para as saídas do Boom Bus,o transporte oficial do festival.
Era grande o número de viajantes do mundo todo para embarcar nessa aventura. Do lado de fora,muitos ônibus a espera do público,do lado de dentro: dreads,roupas coloridas,diferentes estilos,cabelos,idioma,acentos. A partir daí já se tinha uma idéia da mistura que seria esse festival.

Pelo caminho, entre rodovias, um percurso de 250 km, ou quase 3 horas de viagem até o Geoparque Naturejo, local rodeado por belezas naturais, montanhas, rochas, pedras e um lindo lago azul.
Antes da portaria principal do festival, alguns quilômetros. Para quem optou ir de Boom Bus, foi uma boa escolha, já que se evitavam tempos e tempos de espera, ou na fila sob um sol forte que refletia o clima mais quente do interior. Mas, teve muita gente que preferiu trilhar o caminho a pé, com mochilas pesadas, mas em um clima de diversão, de novas amizades e de muita resistência física.

Finalmente dentro do Boom Festival: “Welcome” dizia a placa na entrada principal. Sorriso na face,olhos brilhantes,admirada com tudo o que ainda desconhecia e que exploraria.
No primeiro dia do festival, dia 11 não há som, é um dia para as pessoas chegarem, se ambientarem, escolher o seu lugar de camping, curtir a natureza, descansar, enfim se habituar e se preparar para uma maratona que estava apenas começando.
Percorrendo as áreas, podia-se ter uma idéia de qual grande era o lugar. Árvores, muito verde, sombras, flores, e todo aquele ar colorido. Nenhuma nuvem no céu, o sol brilhava. Tempo seco,semi árido,muita poeira,e no chão,pedrinhas e algumas rochas e espinhos.Mistura de vegetação,e um paraíso abençoado.

Achei interessante se ter uma idéia de como é o festival antes de ele ter começado. Tempo para conhecer cada lugar, sentir cada energia, cada cheiro, andar por todos os cantos e adivinhando ou tendo uma idéia do que é o que.

Momento exploração.

No dia seguinte, dia 12, terça-feira, a noção de que mais um Boom Festival estava a começar era verdadeiro. Decorações por todos os lados, cores, muitas cores, estruturas gigantescas, riquezas nos detalhes, mapas, placas, movimentação, últimos ajustes no som, em todas as pistas. Flea Market já montado é o sonho.

No mapa deixado em alguns lugares, como na entrada, no balcão de informações ou nas árvores você se baseava e guiava-se.
Para acampar, três áreas de camping principais com o indicativo “camping”, onde não se podia também havia o aviso. Estacionamentos de carros separado do estacionamento de motor home e veículos maiores. Chuveiros próximos ao camping,banheiro de sólidos e banheiros somente de líquidos,divididos sempre entre homens e mulheres.

“Lockers” ou o nosso guarda-volumes, ”achados e perdidos”, cozinha comunitária, cozinha solar e uma boa área de alimentação com sabores exóticos e naturais do mundo todo.
A grande tenda colorida que cobria todo o espaço dedicado às pessoas que estavam acomodadas e se alimentando, foi feita pela equipe de Thomas, Daime Tribe. Uma lycra imensa e colorida, “tai-day”, com cores suaves e traços fortes. Abaixo, grandes mesas, bancos e chuveiros que algumas vezes durante o dia refrescava com o calor que fazia.

Dezenas de stands montados com cardápios saudáveis, bebidas orgânicas e refrescantes, além de bares personalizados e pintados pelo artista High Raff e com o atendimento do Wave Bar.
Ao todo 17 restaurantes. Comida vegetariana, veggie burgers, especialidades da Índia, Tailândia, Itália e Singapura. Deliciosos pães quentes recheados, comida japonesa, massas, macrobiótica, bebidas biológicas, pizzas, mexicana, caldos, carnes, snacks, e também um restaurante regional de comida tipicamente portuguesa. Nas refeições, os preços variavam de 6 a 11 euros, as bebidas ficavam entre 1 euro e 4 euros. Além disso, podia-se saborear sorvetes diversos, água de coco, e açaí, muitas frutas, e outras comidinhas que se encontravam fora da área de alimentação.

Ao redor de todo o Dance Floor, onde se formava um grande círculo, o Flea Market ou Feira mix. Umas 50 lojinhas fixes, bacanas e com artigos personalizados de artistas e artesãos do mundo todo. Era unir arte com conhecer pessoas e culturas, um espaço que sempre estava movimentado. Ambiente colorido e curioso onde se encontrava uma grande variedade de roupas, acessórios diversos, livros e revistas, joalheria, sandálias, botas, artesanatos, roupas feitas à mão, produtos reciclados, cristais, tabacaria, camisetas personalizadas, malabares, e também a Matramba, brasileira com lindas cartucheiras e lanternas led.

No final da tarde, as primeiras melodias surgiram. Batuques, sons orgânicos, era o início oficial da abertura com Star Sound Orchestra. Em um Dance Floor com tons em verde,com pequenas outras salas que refrescavam com um mini lago e lugares para sentar. As coberturas de sombras foram desenvolvidas pela Sagaz, equipe brasileira de São Paulo, e duas Fênix se destacavam. Além disso, seis espíritos e um cristal protegiam e canalizava a energia da pista, projeto esse desenvolvido pelo eslovaquio, Misko.

Main Floor recheado de boas atrações, do Full on ao Dark, do Progressive ao Trance. Nomes como Zarauz, projeto português, N.A.S. A, destaque para um projeto de progressive dançante, o DJ Nellix, os australianos da Zenon Records, Shadow FX, Tetrameth, além de Behind Blue Eyes, que contagiou não somente pelo som, mas por sua performance pessoal que empolgou todo o público. Os brasileiros também tiveram seus destaques como First Stone, DJ Pedrão, Swarup e Burn in Noise. Dos nomes do Full on e que mantiveram uma cena mais old school, Tristan brilhou, com bases fortes e melódicas e Shane Goby.

Continua...

Por Nat Naville (nati@emusicbrasil.com)